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amigos: Lembrei-me/ Chover no Molhado/

Monday, May 07, 2007

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Espreitei por debaixo do tapete. Estava à procura de uma coisa que não me lembro. Portanto não interessa.
As paredes pareciam-me menos brancas, e as lâmpadas de tungsténio mais amareladas. Pálidas.
Não chovia mas a rua estava molhada e cheirava a terra. Estava a ser um dia difícil.
Não conseguia ouvir um álbum de seguida, não conseguia ouvir ninguém de seguida.
Experimentei todas as posições possíveis na minha cadeira e não conseguia encontrar um conforto decente.
A rádio? A rádio trazia-me tudo menos tranquilidade. Embrenhar-me num som, logo cortado por publicidade, dispenso.
Não consigo lidar com semelhante falta de tempo.
Os dias vão se misturando com as noites, um cocktail turvo só para disfarçar que a morte está vinte e quatro horas mais perto.
O silêncio dos meus telefones não me admira, o barulho dos meus vizinhos não me incomoda. Volto a janela e acendo um cigarro.
Para quê? Eu não fumo! Mais uma lápide no cemitério de cigarros em que se tornaram os intervalos de calçada das nossas ruas.
Morreu à nascença, o pobre. Desço. Dois dedos de conversa, um café, uma cerveja ou um bagaço, um penalty mal anulado. Chega.
Reparo à subida que o meu elevador tem um botão baço de ninguém tocar. Toco, não pela curiosidade. Num dia destes já não
há curiosidade, só um rezar beato para que ele termine.
Subo, saio, era a arrecadação junto com a casa das máquinas. Porta aberta, sorte! Clarabóia aberta, M-I-L-A-G-R-E!
mas este não entra para a canonização do Papa. Este entra para o meu exorcismo. Puta que os pariu não me apetece falar deles.
Espera me o telhado, dúvida zero. Mas ao subir! Súbita visão, sublime...

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