São Mamede
- Que tosse horrível! - Ouvi uma das poucas árvores dizer a um dos muitos cães.
Ele não se importou. Cagou, como se costuma dizer. Cagou, aliás, como se costuma fazer. (é curioso ver que cada uma destas modalidades vem acompanhada do seu próprio e distinto encolher de ombros) Ainda por cima era um daqueles cães enconantes que lembram os cabrões dos gatinhos que raspam a terra com as patas para depois as pessoas dizerem "Ai, é um bchinho tã asseadinho!" com sotaque a caldo verde.
Mas o Sol seguiu viagem e os ponteiros deram voltas e a Lua teve de esvaziar o estojo de mar porque não se pode levar líquidos em Touro.
- Que cheiro horrível! - Ouvi uma das poucas pessoas dizer-me. Não me importei mas não caguei. Aliás, não tinha cagado. Olhei para as solas. Olhei para a rua. Vi os prédios, vi a árvore, vi os cães, vi os gatos, vi as velhinhas.
Ouvi, aos gritos, AOS GRITOS, e ainda consigo ouvir um número sem fim de "O que é precisé saudinha"s e de "Istas mnhas cruzes é que dã cabo de mim"s e, sinceramente, estou FARTO de caldo verde.
E o Sol seguiu viagem e os ponteiros continuam estúpidos e a Lua já comprou um estojo novo mas não percebo para que é que me serve ter as artérias num brinquinho se estou cheio de merda nos sapatos.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home