Os velhotes são tão queridos e Jesus morreu para salvar as criancinhas

Vais ter de te habituar a repetir as mesmas conversas vezes sem conta.
Sentares-te, ouvires e remoeres sobre o mesmo assunto, sem vontade e até não se sabe bem quando. Vais ter de sorrir contrariado e de responder sem ter opinião e de engolir sem ter o que mastigar.

Vais ter de deglutir sapos e esperar o fim da digestão para ver se o teu cú se transforma em príncipe quando tiveres quem to beije. Caso não esperes ter, um dia, quem o faça, não sejas estúpido - não engulas sapos - provavelmente não sabem bem.

Vais ter de te habituar aos três andares vezes dois de legumes a cozer à hora do almoço, ao fumo que te traz conversas velhas e repetidas que, por sua vez, cheiram, à brava, a soupa de cenoura e a emissões da Praça da Alegria de 1995.

Vais ter de envelhecer ao pé de uma paragem de autocarro e, se possível, não muito longe de uma banca de jornais.
Vais ter de te habituar a repetir as mesmas conversas vezes sem conta porque já não tens quem te obrigue a fazê-lo: será essa a altura em que o farás só porque sentes falta do vapor da panela de pressão, do bigode de 1995 e de achares que os outros eram velhos.

Vais gostar. És só mais um enfarte do miocárdio.