Só me dá sono quando a carrinha do pão chega

Noctívago de excelência e agora por convicção. Sou eu. Bem vindo a mim.
Aviões que vêm e aviões que vão. É o meu tique-taque, torna os dias mais lentos e as noites
mais compassadas.
Uns pedem-me agressividade sem violência. Outros impõem-me violência sem agressividade.
E eu sirvo-os como um empregado serve à mesa. Volta e meia deixo cair um prato ou viro um monte de tabuleiros
em frente a todos os clientes. Não faz mal. Tenho tempo apesar de não ter relógio.
Estou a poupar para pagar à companhia de electricidade. Sou o maior cliente privado.
Computadores, discos, giradiscos, carregadores, candeeiros incansáveis até já não serem precisos-nasce o Sol.
À procura das respostas.
Tenho um número de telemóvel, dois números de telefone, quatro endereços de e-mail, duas moradas,
carro e depósito cheio, até mensagens de graça e no entanto ainda não consegui combinar um encontro comigo mesmo.

As sandes mistas e os croissants com manteiga sabem melhor depois da meia-noite.
E é por isso que não acordo cedo para ir à padaria.

Se tiver um enfarte do miocárdio, vai ser imediatamente antes dos jornais chegarem às bancas.