Eu vejo novelas

Quase que era capaz de jurar que aquela sombra se está mexer.
À frente de uma Lua tão brilhante, tudo é possível.

Os contornos da cerveja que bebo tornam-se um tanto ou quanto indefinidos. O ar em meu redor está quente,
e o meu racíocinio lento. Sentado nesta cadeira já tive medo, sono, medo de ter sono. Medo do peso das nuvens
ser maior do que a força que os meus joelhos fazem para me manter em pé.
Já contei os dedos dos pés até me esquecer das horas. Expliquei aos meus dois braços que as minhas pernas são apenas
suas meias irmãs, ao contrário do que pensaram a sua vida toda.
Conversei com o meu umbigo sobre a política externa do meu nariz, e como no Inverno ele se desmultipica em comunicados,
publicações e conferências de imprensa prontamente recebidas pelo lenço amarrotado que dura toda a temporada no meu bolso.
Expus as mais variadas teorias sobre vibração, amplificação e redução de conversa fiada ao meu tímpano em sessões de 30 minutos.
Acompanhei de perto o casamento da unha do quinto dedo do pé esquerdo com a primeira do pé direito. Fiz questão de manter a nuca
ao corrente de tudo o que se passava. A verdadeira novela de sucesso passa-se aqui e tem audiência de uma única pessoa.EU.

A noite vai longa, a lua desapareceu e a sombra voltou ao mesmo sítio. A cerveja acabou e a novela também.

Night night, infarct of the myocardium