Táxis sem bancos
Por muito que tente, não consigo. Por mim, preferia ser o fumo de um cigarro e dissolver-me na atmosfera. A história é velha, muito velha. Árvores nascem e tombam, e ela permanece. Pagam-se empréstimos e destroem-se famílias mas ela continua.
Acho eu.
Perdi a noção do tempo; do meu prisma ele divide-se em quilogramas e eu estou muito gordo.
Adormeço a pesar 700 toneladas. Durmo outras 700. Sonho exactamente com o instante em que abro uma porta. Do outro lado, oiço murmúrios :"Love will tear us apart", Joy Division. E não estou no passado, estou no futuro.
The only thing that was torn apart was this door, "us" was long gone.
A porta atrás de mim arde com violência, o fogo é lilás e assume contornos suaves.
Agora sim cheira a passado, uma brisa leve que me embala timidamente para depois desaparecer sem deixar memória.
Levanta-se vento, e cada vez mais forte, ameaça de morte as árvores desta avenida que parece não ter fim.
Centenas de jornais esvoaçam,
rasando a minha cara à tangente.
Pego num deles e está rigorosamente em branco. Algo me diz que está à espera de ser escrito. Tudo está a espera de ser
escrito. Quem me diz é o livro sem autor e sem mais nada que acabo de apanhar do chão.
A história acabou, porque agora sou eu quem a escreve.
Subo para o tejadilho do primeiro táxi que encontro e peço para me deixar no fim da avenida.
Não estou a dormir estou exactamente a abrir a porta para sair de casa. 1400 toneladas mais leve.
95,6% dos taxistas lisboetas em actividade actualmente, devem-nos um enfarte do miocárdio desde que nasceram.
0 Comments:
Post a Comment
<< Home