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Thursday, May 18, 2006

Fortunate Son

Tens razão, nasci em berço de ouro. Percebo perfeitamente que te faça confusão que a colher de prata se me tenha atravessado na garganta, mas eu não sou igual a ti. Se reparares, vês que tenho uma boca muito maior.
Enquanto vocês sorvem, com mil cuidados, o vosso chá, eu vomito as vossas frases e as vossas máscaras e os vossos cheiros e enfio os braços na boca, até aos cotovelos, e puxo com todas as forças a merda da colher.
Há-de sair. Um dia.
Por agora, é raro ter fome. Ando nas ruas e as sombras dos guindastes e dos andaimes deixam-me cheio só de me tocarem, mesmo quando muito ao de leve. Mesmo quando não me tocam e só olham. (principalmente quando olham e me confundem convosco)

Às vezes, quando os gatos passeiam do lado de lá do vidro e são todos pardos, a colher encolhe-se e deixa-me respirar. Gostava de não vos ver amanhã. Vocês são piores do que as sombras. Preferia o enfarte do miocárdio.

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