Música para ouvir com as colunas desligadas
e o som no máximo.
"Estou a ver que fizeste as pazes com a cidade."
Não foi bem assim...
O que fiz foi recorrer à água para tornar menos duras as palavras do Mundo, ao ponto de me esquecer que Ele vivamente recomenda que eu me torne doutor.
Estava cercado de bons amigos. "Nunca vais saber o que isso é", disseram-me uma vez. Não me interessa, naquele momento soube perfeitamente. E soube que eram os melhores exactamente porque me cercavam e não me deixavam ver os arranha-céus a magoar as nuvens e a foder o buraco do ozono. (Sim, porque eu ainda choro quando a mãe do Bambi morre.)
No fundo, a cidade não tem culpa. Não tem culpa de ter nascido e nem sequer daquilo que faz nascer. O problema é, na escola, ensinarem-nos a tabuada e como usar um lápis, mas não nos ensinarem a usar o tempo, nem a contar estrelas cadentes.
Não faço as pazes com a cidade porque não quero perdoar. Como a maioria, prefiro recorrer à água para molhar as palavras até que estas se desfaçam como pão à chuva e com elas se desfaçam os prédios, as estradas e os relógios. Depois, com um empurrão dos meus amigos, trepo a uma árvore bastante comprida e, do seu ramo mais alto, vejo, no chão, do tamanho de uma formiga, o enfartezinho do miocárdio.
Obrigado a todos os meus amigos
0 Comments:
Post a Comment
<< Home