I Spy...
Para dizer a verdade, não tenho absolutamente nada para escrever. Vivo no campo e, às vezes, sento-me no telhado duma casa que se debruça para ver o mar e vejo o mar.
O mar é geométrico. Tem cores e num dos lados tem uma praia e, no outro, tem a casa e tem-me a mim. É um mar igual a tantos outros.
No canto superior esquerdo do mar há um rio. Um rio menos geométrico, mas com margens e golfinhos. (ou coisas que nós dizemos serem golfinhos só para que as crianças, que ainda querem saber a verdade, não nos façam mais perguntas e se entretenham a desenhá-los com as esferográficas pretas, nos blocos de post-its de cores velhas.)
Numa margem do rio, senta-se, morbidamente obesa, a cidade. Na sua poltrona, não é minimamente geométrica. É gorda e apática. Gorda sem qualquer bom sentido, sem qualquer conotação afectiva, gorda e repulsiva.
Quando eu era criança e aprendia inglês, numa escola para pessoas que, querendo ou não querendo, sempre vão aprendendo inglês, jogava-se um jogo chamado "I Spy". Dizia-se a primeira letra da palavra e os outros tinham de adivinhar qual era. Agora, passados uns bons molhos de dias embaciados e sujos de dedadas, lembro-me cristalinamente desse jogo.
I spy with my little eye something beginning with E...
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